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Como anda a saúde mental dos alunos?

Como anda a saúde mental dos alunos?

Os anos de pandemia escancararam a necessidade de que a nossa saúde mental precisa ser cuidada. O isolamento social, o medo da morte, o excesso de tela e a pouca interação vivida afetaram a todos nós, adultos, jovens e crianças.

Sim, problemas de depressão, ansiedade e outros transtornos ligados à saúde mental já vinham altos e já demonstravam que precisam ser olhados de uma maneira mais atenta. Porém, os anos de Covid-19 agravaram ainda mais a situação e acenderam o alerta.

Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), feita em junho de 2019, revela que 1 em cada 5 indivíduos apresentavam problemas relacionados à saúde mental na fase da adolescência. Já no segundo semestre de 2021, um levantamento inédito realizado pelo Ipec/Inteligência em Pesquisa e Consultoria, a pedido da Pfizer Brasil, mostrou que 79% dos entrevistados afirmaram que a pandemia impactou sua saúde mental de alguma forma, sendo que os jovens foram os mais afetados: a taxa de pessoas que classificaram sua saúde mental durante a pandemia como ruim ou muito ruim ficou entre 5% e 25%; entre os jovens, os índices foram de 39% (ruim) e 11% (muito ruim).

Além disso, segundo a Global Learning Survey 2022, pesquisa encomendada pela empresa Pearson, em diversos países, inclusive o Brasil, a depressão e a ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia. E um dado curioso e bastante sintomático: a pesquisa mostra também que, no Brasil, 96% dos pais gostariam que as escolas fornecessem serviços de saúde mental gratuitos aos estudantes.

No dia a dia de seus consultórios, especialistas da área de saúde mental veem com muita clareza esse aumento nos atendimentos de crianças e jovens. Resolver o problema não é tarefa fácil, mas quando família e escola caminham juntas nesse processo, os resultados tendem a ser melhores, afirma a psicóloga Jenniffer Pires, especialista em Terapia Comportamental na Infância e Adolescência:

“Já há algum tempo, as pesquisam vinham mostrando que a saúde mental da população mundial vinha piorando consideravelmente, mas a pandemia aumentou isso de forma exponencial. Principalmente para as crianças e os jovens, o isolamento forçado, o convívio social inexistente, o afastamento dos amigos, o excesso de tela, as aulas online…tudo isso estressou ainda mais essa parcela da população. Claro, todos sofremos, mas crianças e jovens estão em uma fase onde constroem sua individualidade a partir da interação com outras pessoas. Então, estarem privados disso tudo é ainda mais impactante para eles”, avalia Jenniffer.

A psicóloga Renata Viegas, especialista em Psicologia Infantojuvenil e em Orientação Profissional, afirma que após a pandemia, o número de crianças de 5 a 9 anos em seu consultório aumentou bastante. “Em geral, adolescentes e jovens eram a grande maioria. No pós pandemia, aumentou muito o número de crianças da chamada primeira infância que vem ao consultório. Na faixa etária de 5, 6 até os 9 anos, era bem mais raro. Agora, está igualmente grande. O que se viveu na pandemia foi muito doloroso, difícil, estressante, mas não acabou. Ficaram marcas que precisam ser vistas e trabalhadas. Às vezes, é a família que percebe e pede ajuda, outras vezes é a própria escola que percebe e sinaliza às famílias. Seja como for, é importante todos estarmos atentos às demandas e aos sinais que essas crianças e jovens nos dão”.

Ainda segundo Renata, todo esse cenário de afastamento do convívio social, excesso de tela e as aulas online trouxeram muito estresse e desestímulo aos alunos. Porém, voltar à chamada “vida normal”, novamente com convívio social e aulas presenciais também foram um gerador de estresse e de adoecimento mental para boa parcela dessas crianças e jovens: “Agora, com a volta ao convívio social, muitos alunos relatam que acham que não sabem mais conviver socialmente, têm medo de não serem aceitos, alguns dizem que estão mais acostumadas com as interações virtuais do que com as interações presenciais, reais. Isso se reflete, também, na volta às aulas, que para muitos foi bem difícil”, afirma Renata.

Em geral, o que essas crianças e adolescentes relatam nos consultórios é o que as escolas e as famílias percebem em maior ou menor grau. Relatos de ansiedade, depressão, desânimo, quadros de insônia, desinteresse pelos estudos, falta de ar, taquicardia, resistência a sair de casa (preferem continuar em casa e/ou trancafiados em seus quartos), transtornos alimentares, maior apego às telas, pensamentos suicidas etc.

Assim como Jenniffer, a psicopedagoga Beatriz Rizzo, diretora pedagógica da Escola Bia Rizzo, no Grajaú, zona norte do Rio de Janeiro, também avalia como fundamental que as famílias e as escolas caminhem juntas nesse processo de ajuda aos alunos, a essas crianças e jovens que veem demonstrando atenção especial no que se refere à saúde mental.

“Nas escolas onde atuo, vejo claramente um agravamento do quadro de saúde mental dos alunos, mas não responsabilizo só a pandemia. É algo que vem se agravando ao longo dos anos, reflexo de uma sociedade cada vez mais midiática, que usa e abusa das tecnologias e das redes sociais, que pauta a sua vida pelo olhar do outro. Isso traz um nível de ansiedade, de pressa, de querer tudo pra ontem, o que acaba desenvolvendo e potencializando a ansiedade. É nesse sentido que falo, cada vez mais, que as famílias têm que andar junto com a escola. As famílias não podem responsabilizar, cobrar, que apenas as escolas eduquem. Isso é uma parceria, um trabalho que envolve todos os lados. Mesmo as crianças do Integral, elas têm uma família e é nesse ambiente que elas crescem, aprendem pelo exemplo e chegam às escolas já com suas características. Por isso, a importância de se trabalhar junto, sim. Escola e família, de mãos dadas”, afirma Beatriz.

Impactos gerais

Como sinalizado por Beatriz Rizzo, a saúde mental dos alunos é uma questão central que deve ser enxergada e trabalhada tanto pela família quanto pela escola. Estudantes que sofrem de algum tipo de adoecimento mental, em geral, têm seu rendimento escolar prejudicado, sem falar, claro, na perda de interação social entre os colegas.

Para ajudar a escola a perceber alguns indícios de que esse aluno pode estar passando por problemas de saúde mental e/ou precisando de um olhar mais próximo e cuidadoso no trato diário, veja as dicas passadas pelas especialistas consultadas para a matéria:

  • Isolamento dos colegas
  • Maior ansiedade, em geral, demonstrada de forma mais clara, na sala de aula, quando esse aluno se vê diante de provas e avaliações, tendo crises de choro, por exemplo
  • Comportamentos repetitivos que chamam a atenção
  • Desinteresse e sonolência em sala de aula
  • Timidez paralisante
  • Falta de foco
  • Vontade de se relacionar apenas de forma online
  • Baixa autoestima
  • Queda brusca e repentina no rendimento

Escolas:

Lidar com essas questões não é tarefa fácil. Por isso, o ideal é que as escolas invistam numa relação aberta e saudável na troca com os pais. “Fazer disso um tabu é o pior dos caminhos. Dialogar é sempre o melhor. Levar esse assunto para dentro da rotina escolar. Propor seminários sobre o tema, tanto com os alunos quanto com os pais. Envolver toda a comunidade escolar é fundamental”, orienta Renata.

Ter nas escolas profissionais da área de saúde mental capacitados, preparados para lidarem com essas demandas cada vez mais presentes na vida dos alunos é outro ponto considerado crucial. Desenvolver trabalhos pedagógicos que discutam as questões afetivas e emocionais de uma maneira geral, abrindo o leque para temas propostos, também, pelos alunos. Falar sobre as emoções. Ouvir os alunos. Combater o bullying. Estimular um ambiente de troca acolhedor entre todos. Esse é o caminho.

Famílias:

Já para as famílias, Jenniffer aconselha uma coisa simples, mas infelizmente cada vez mais rara de se ver: menos tela e mais natureza. 

“Parece óbvio e simples, mas no dia a dia, vemos famílias que têm pouca interação. Mesmo com a vida corrida, tente tirar um momento do dia ou da semana, que seja, para estarem de fato juntos, conectados. Almoçar juntos, um jogo de tabuleiro, uma conversa gostosa, um passeio ao ar livre. Isso tudo gera conexão e precisa ser alimentado. Se nos rendermos ao uso das telas, cada um fica em seu mundinho e os abismos se formam, crescem e ficam cada vez mais difíceis de serem vencidos. E mais: mesmo que seu adolescente esteja naquela fase difícil, complicada, de só querer ficar trancado no quarto, fale, insista, chame pra sair, pra conversar. Ele pode dizer mil vezes que não quer, mas insista. Mostre que se preocupa com ele. Ele pode recusar o convite e fingir que não liga para as suas investidas, mas no fundo, liga, sim”.

Escrito pela jornalista Dani Maia.

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